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Handmaid's Tale ainda tem fôlego ou está apenas se arrastando até o seu final?

Enoe Lopes Pontes

Colunista On: Enoe Lopes Pontes

Pesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries
Handmaid's Tale ainda tem fôlego ou está apenas se arrastando até o seu final?
Créditos da foto: Atriz Elisabeth Moss interpreta June Osborn | Foto: divulgação

Em 2022, o drama mais famoso do streaming Hulu chega à sua quinta temporada. Com altos e baixos durante os seus anos de exibição, a produção divide opiniões. O público que acompanhou ou que continua acompanhando o seriado possui alguns incômodos válidos em termos do discurso que ele apresenta. A obra, que é uma adaptação homônima do livro de  Margaret Atwood, nasceu em 2017 e parecia buscar um diálogo com questões feministas, através de uma distopia.

Os Estados Unidos se transforma em Gilead e toda a sua população passa a viver sob um regime autoritário. A história possui um emaranhado de desenvolvimentos e caminhos múltiplos, mas o que importa neste texto é entender que, desde o seu início, Handmaid’s falhava em trazer uma visão plural para as histórias das suas personagens, encaminhando-se para uma discussão bastante pautada em um feminismo branco hétero cisgênero.

Em cada ano a mais de duração, Handmaid 's ia deixando de lado os plots das figuras femininas que fugissem desta normatividade, como são os casos de Moira (Samira Wiley) e Emily (Alexis Bledel). Lentamente, ambas foram perdendo espaço na narrativa, fazendo com que o foco permanecesse quase que tão somente na protagonista June (Elizabeth Moss) e na antagonista Serena (Yvonne Strahovski). E é justamente nesta relação das duas e em seus conflitos individuais que a quinta temporada vai se basear.

imageJune (Elisabeth Moss) e Moira (Samira Wiley)

Para além das limitações dentro da sua proposta de discussão dos lugares e lutas que as mulheres ocupam, o quinto ano de Handmaid 's falha também em manter sua qualidade rítmica e de roteiro. A maior questão aqui é que os autores esgarçam os conflitos, dando volta para as suas resolução, tão somente para que exista uma season finale. Por conta disso, há uma quebra de expectativa, pois a quantidade alta de suspensão e jogo de mudanças de atmosfera (entre Gilead e fora de Gilead) era o que mais prendia o espectador à trama.

No entanto, ao invés de acompanhar o desenrolar dos conflitos de quem ficou ou saiu de Gilead, o que se encontra são várias sequências semelhantes, que poderiam ser as mesmas, nas quais June debate o que irá fazer para derrotar seus inimigos. Além disso, é insistente a inserção de cenas de Nick (Max Minghella) explicando a razão pela qual não pode se desvencilhar de Gilead. Talvez, o único episódio que mereça atenção seja o 5x07 (No Man 's Land), no qual, finalmente, o embate entre June e Serena acontece e quando o enredo começa a se encaminhar para o clímax. 

Contudo, após o 5x07, a série volta a caminhar em círculos e a fazer reiterações, para que a história dure dez episódios e ainda consiga ter a sua finale. Ainda assim, com questões de discurso e de roteiro, alguns pontos positivos podem ser destacados. As interpretações de Elisabeth e Yvonne são o ápice em termos de atuação. Obviamente, isto também se dá por elas possuírem mais tempo de tela, porém as duas intérpretes sabem utilizar o espaço que ganharam e fazem com que o jogo entre Serena e June seja maior até do que o próprio diálogo.

image Yvonne Strahovski e Elisabeth Moss em cena

Jogando com os olhares, Elisabeth e Yvonne entregam as intenções mais fortes do texto no silêncio. Além dos olhos, as atrizes usam as pequenas aproximações e os afastamentos sutis entre elas para aumentar ou diminuir a tensão de cada cena. O relacionamento caótico e tóxico da dupla é elaborado de forma mais complexa no não verbal e as respirações fomentam ainda mais esta dinâmica. Ainda que seja lamentável a ausência de outras personagens relevantes e que mereciam voz nesta temporada, os momentos entre June e Serena são os pontos altos do quinto ano da produção.

Em termos de direção, pode-se dizer que Elisabeth Moss (Iluminadas) continua acertando na mão, com a sua decupagem que revela a sua preocupação em colocar as atuações em voga, sim, mas que faz isso à serviço da narrativa, sem medo de se conter ou não nas movimentações de câmera. Todavia, é a brasileira Natalia Leite (M.F.A.) que dirige o melhor episódio do quinto ano de Handmaid. Natalia, ao lado de seu fotógrafo Stuart Campbell (The Manhattan Project), equilibra o suspense, a intimidade entre June e Serena e a investigação dos sentimentos e emoções das duas personagens, através de planos e luzes que deixam Serena e June com uma ligação intensificada.

Ainda que os enquadramentos sejam mais abertos e a iluminação reduzida - com exceção dos flashbacks, que possuem a mesma estética do período em que June estava em Gilead -, a conexão da dupla se fortalece. É como se fosse criado um sentido novo para a lógica das duas. No escuro, na liberdade e dentro de espaços amplos, elas ganham a oportunidade de se entenderem e encontrarem algo em comum. Não há, porém, uma redenção para Serena ou um enfraquecimento de propósitos de June. Mas, a partir destes recursos técnicos, as duas recebem instantes relevantes para a trama e que têm a sua potencialidade aumentada através destas estratégias.

Contudo, ao se pensar no resultado total, a quinta temporada de The Handmaid 's Tale (O Conto da Aia, em português) poderia ser mais enxuta e não abandonar as suas personagens mais diversas. Assim, se a escolha é apenas manter o enfoque na relação de June e Serena, somente três episódios seriam necessários. Desta maneira, quem assiste ao seriado pode ver o 5x01, o 5x07 e o 5x10 e irá conseguir acompanhar o plot completo do ano 5 da série. A esperança é a de que a finale amarre todas as premissas de outras figuras centrais e vá direto ao ponto quando o assunto é o destino de June Osborne e/ou de sua antagonista Serena Waterford.

ONDE ASSISTIR: Amazon Prime Video, Paramount+ e Globoplay

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*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

Enoe Lopes Pontes

Foto de Enoe Lopes Pontes

Doutoranda e mestre em Comunicação, formada em Artes Cênicas e em Comunicação Social, Enoe Lopes Pontes é pesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries. É membro da ABRACCINE e do Coletivo Elviras. Cinéfila desde os 6 anos, sempre procurou estar atenta para todo tipo de produção, independentemente do gênero, classificação ou fama. Do cult ao pipoca, busca observar as projeções com cuidado e sensibilidade. Filmes preferidos: Hiroshima Mon Amour e Possession.

Enoe integra a equipe do Coisas de Cinéfilo, como crítica.

Instagram: @enoelp

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