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Saúde e Bem-Estar

Café, cafeína e saúde

Dra. Anita Rocha

Colunista On: Dra. Anita Rocha

Algologista e especialista no tratamento da dor
Café, cafeína e saúde
Foto: ilustrativa/Pexels

 

O café e o chá estão entre as bebidas mais consumidas em todo o mundo, só perdendo para a água. Cultivados em diversas regiões do mundo, apresentam uma característica comum: geralmente são ricos em cafeina, um agente psicoativo, também presente em grãos de cacau, folhas de erva-mate e no guaraná.

Em verdade, uma variedade de plantas contém cafeína em suas sementes, frutas e folhas. Além disto a cafeína também pode ser sintetizada para uso medicinal ou para ser adicionada em graus variáveis a alimentos e bebidas, incluindo refrigerantes e bebidas energéticas.

Estudos demonstram que nos Estados Unidos da América (EUA), 85% dos adultos consomem cafeína diariamente, e a ingestão média de cafeína é de 135 mg por dia, o que equivale a uma xícara e meia ou 235 ml de café tradicional. Imagina-se que no Brasil este consumo seja ainda maior, uma vez que, segundo a literatura, o Brasil é o primeiro consumidor global de café. A média anual de consumo de café do brasileiro é de 835 xícaras, o que representa pouco mais de duas xícaras ao dia.  

O teor de cafeína varia em função da sua fonte. Uma xícara de café expresso possui 300 mg de cafeína; uma xícara de café coado 150mg; e uma xícara de chá mate 20 a 30 mg de cafeína. Mesmo o café descafeinado possui cafeína, entretanto, a sua quantidade é bem pequena, sendo esta de 2 mg. O conhecimento do teor de cafeína presente nos alimentos e na bebida é algo importante, pois estudos demonstram que os efeitos observados após a ingestão da cafeina são dependentes da dosagem consumida.

Uma consideração importante é a de que o café, uma das principais fontes de cafeína, contém centenas de compostos químicos que podem causar ou potencializar efeitos atribuídos erroneamente apenas à cafeína. Acredita-se que esses compostos, por exemplo, possam reduzir o estresse oxidativo, melhorar o microbioma intestinal, e modular o metabolismo da glicose e da gordura.

Na medicina, a cafeína tem sido aplicada para o tratamento de apneia em neonatos prematuros, fadiga e como analgésico em diferentes contextos, tais como cefaleia tipo enxaqueca e cefaleia pós-punção dural. Acredita-se, inclusive, que a cafeína tenha um efeito protetor diante de doenças neurológicas, com a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson.

Após ser administrada, a cafeína é absorvida quase completamente em 45 minutos, tendo o seu pico sanguíneo nos primeiros 15 a 60 minutos, a depender do formato de ingestão e dos alimentos utilizados em associação. Geralmente a cafeína é eliminada do organismo em 2,5 a 4,5 horas, exceto nos indivíduos tabagistas, nos quais observa-se um período de eliminação duas vezes maior. O tabagismo, portanto, parece potencializar os efeitos da cafeína, contribuindo para uma maior incidência de efeitos indesejados. Além do uso medicinal sabe-se que muitos indivíduos utilizam a cafeína com o intuito de aumentar a vigília e a produtividade durante o trabalho, uma vez que a literatura tem demonstrado que a cafeína aumenta a performance nas atividades de grupo. 

CAFEÍNA E DOR

O mecanismo pelo qual a cafeína exerce os seus efeitos sobre o desempenho cognitivo e sobre a dor ainda é pouco compreendido, embora acredite-se que a mesma atue em diversos alvos moleculares, sejam eles receptores ou canais iônicos. Já em 1969, observou-se que a cafeÍina bloqueia os receptores da adesina, uma substância que além de promover sonolência e redução da disposição, interfere com a percepção da dor. Em verdade, a adenosina atua em diversos sistemas fisiológicos e os seus efeitos são geralmente opostos aos da cafeÍna. Quanto menor a atuação da adenosina no organismo, mais ativo, disposto e resistente a dor mostra-se o indivíduo. A cafeína, portanto, pode contribuir para o alívio da dor quando adicionados aos analgésicos comumente usados. Especificamente, uma revisão de 19 estudos mostrou que 100 a 130 mg de cafeína adicionada a um analgésico aumentou modestamente a proporção de pacientes com sucesso no alívio da dor.

RISCO DO USO ABUSIVO

Apesar dos efeitos benéficos relatados, observa-se uma preocupação quanto aos potenciais risco do uso abusivo do café e da cafeína. A cafeína deve ser utilizada com cautela em indivíduos portadores de úlcera péptica, refluxo gastroesofágico, comprometimento da função renal ou hepática ou doença cardiovascular, devendo ser evitada nos pacientes portadores de arritmias cardíacas sintomáticas, insônia, ansiedade ou tremores. Quando há a orientação de interrupção da ingestão da cafeÍna, esta deve ser gradual, pois, quando abrupta, pode causar sintomas de abstinência representados por irritabilidade, dor de cabeça, cansaço, redução do estado de alerta e alteração do humor. Estes sintomas geralmente duram por dois a nove dias.

*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On 

Dra. Anita Rocha

Foto de Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha é médica Algologista , coordenadora do Itaigara Memorial Clínica da Dor, membro titular da Sociedade Brasileira de Anestesiologia; da Sociedade Brasileira de Dor e da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas da Dor. Possui residência médica em Anestesiologia pelo CET Obras Sociais Irmã Dulce; em Clínica da Dor pela UNESP-Botucatu e formação em Técnicas Intervencionistas para o tratamento da dor na Singular/Campinas. 

Instagram: @draanitarocha
 

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