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Cidadania

Sim, existe um débito conjugal - e não é gerado pelas mulheres

Otávio Leal

Colunista On: Otávio Leal

Pai de Maria Flor e Amora, advogado, consultor parental e psicanalista em formação
Sim, existe um débito conjugal - e não é gerado pelas mulheres
Foto: ilustrativa/Pexels

 

Cada dia um novo absurdo. Cada dia uma nova face da violência imposta às mulheres.

A novidade da vez é a fala de um suposto procurador da república (com letra minúscula mesmo), que resolveu compartilhar suas ideias trôpegas com seus pares.

Dentre essas ideias, o tal procurador defende uma antiga tese de que existe uma "obrigação sexual" da mulher com o marido, afirmando que "a esposa que não cumpre o 'DÉBITO CONJUGAL' deve ter uma boa explicação, sob pena de dissolução da união e perda de todos os benefícios patrimoniais”.

Na mesma fala, o ilustre procurador sugere que o feminismo e o empoderamento são fruto do recalque e deveriam ser tratados como transtorno mental. Uma pérola! Infelizmente, vai demorar alguns séculos para que pessoas dessa categoria entendam, ou queiram entender, sobre o real sentido das lutas e conquistas das mulheres.

Além de não ter base legal, a tese do "débito conjugal" fere direitos inseridos na CF/88, como a dignidade da pessoa humana, a igualdade entre os cônjuges e a liberdade sexual.

Admitir essa tese como válida, termina por legitimar a ideia de que o marido detém direitos sobre o corpo da mulher.

É com base nesse pensamento machista, ultrapassado e cruel que até hoje alguns maridos constrangem suas esposas, mediante violência ou grave ameaça, à conjunção carnal. Em outras palavras, estupram a própria esposa, no que é chamado "estupro marital".

No texto da semana passada - "Cuidado! Os caras normais também estupram" -, falamos sobre a cultura do estupro e sobre a forma como as mulheres são vistas pela sociedade.

Em verdade, existe, sim, um débito conjugal, mas esse débito não é gerado pelas mulheres. 

Esse débito é oriundo dos homens que maltratam, ferem, constrangem, traem, omitem-se nas tarefas da casa, oprimem e subjulgam suas esposas, além de abandonar e negligenciar os filhos(as), gerando uma sobrecarga incalculável.

Esse débito conjugal também é um débito social que precisa ser cessado e quitado! Quem se omite e se cala diante de tais absurdos, também entra nessa conta!

DENUNCIE:

Disque #100
Disque #180

*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On

Otávio Leal

Foto de Otávio Leal

Otávio Leal, do blog "Pai, vem cá", é pai de Maria Flor e Amora, advogado, consultor parental, psicanalista em formação e autor do livro "Papai foi pra roça, Mamãe foi trabalhar. E agora?".

O projeto “Pai, Vem Cá!” se tornou parceiro da Defensoria Pública da Bahia e da Revista Pais & Filhos, tendo participado de iniciativas sociais importantes, a exemplo da campanha Poder do Colo, da Novalgina.

Instagram: @paivemca
 

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