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Gastronomia

Comida Lenta: comer é um ato político

Chef Caco Marinho

Colunista On: Chef Caco Marinho

Tem a missão de tornar mais acessível para todos os alimentos bons, limpos e justos
Comida Lenta: comer é um ato político

O que esperar de uma coluna de gastronomia feita por um cozinheiro da aliança do movimento Slow Food?

Receitas? Truques? Sugestões de cardápios? Guia de restaurantes? Perfil de chefs? Conveniências?

Peço a vocês, leitores, que não reduzam o entendimento do ato de comer a essas questões e me deem uma chance de explicar o quão mais profundo pode ser isso tudo. 

Comer é um ato político que impacta na escassez da água; na escassez das matas, na sua gente, flora e fauna. No esvaziamento das relações humanas do entorno da mesa, que se fazem tão corridas ou absorvidas por fast-foods e celulares. Impacta nos resíduos de micro plásticos e no veneno, já presentes em quase todos os alimentos disponibilizados nos centros de abastecimento. Na mentira e na omissão das informações nos rótulos e no nosso direito de escolha. Na concentração de renda nas mãos de poucos e na miséria de muitos. No aquecimento global, na seca e na fome. Na perda de patrimônio genético com a extinção das espécies.

Alguns cientistas afirmam que estamos próximos a um ponto sem volta. Não adianta mais falar em sustentabilidade agora. Efetivamente, precisamos regenerar o planeta e sua biodiversidade, pelo direito dos povos à soberania alimentar e à vida. 

Representando o Instituto Ori e o movimento Slowfood, em parceria com governos de estado do Nordeste e outras instituições, viajo por essas estradas conhecendo, registrando, divulgando e defendendo saberes tradicionais, agricultoras, agricultores, marisqueiras, pescadores e artesãos da nossa agricultura familiar. 

E, por isso, vi mudar o meu entendimento sobre cozinhar e comer, e agora posso compartilhar isso com vocês. 

Pude entender que, no ato de comer, precisamos saciar a alma tanto quanto o corpo e isso se faz quando a comida, mesmo simples, ganha dimensões bem mais profundas que aquelas vendidas empacotadas e oferecidas nas gôndolas dos supermercados. Precisamos das forças da terra e do mar nos alimentos. Precisamos da força das mãos e do suor. Precisamos das histórias, da cultura, das tradições, da identidade e do afeto. 

Às vezes, são apenas os miraculosos frutos colhidos do pé. Deixados amadurecer ainda no pé. Com a doçura natural e aquela alegria de criança. Sem vício de açúcar refinado. 

E agora, por nos tornarmos conscientes disso tudo, já não podemos involuir, nem permitir uma herança maldita para os nossos filhos e filhas que não saberiam mais o que significa comer de verdade. 

Se não fizermos nada, eles não conhecerão mais do que um ou dois tipos de bananas ou de mangas sem fiapos. 

Terão, quem sabe, um único tipo de melancia insossa, amarela, quadrada e sem caroços. Mais útil do que fruta. 

E, por não conhecerem esse mundo de tantas cores e formas, sabores, aromas, texturas e sensações, caberá a eles aceitar, silenciados dos seus direitos mais primordiais. 

Sugiro que conheçam iniciativas que inspiram e nos fazem crer que é possível vivermos em um mundo melhor. 

Seguem sugestões de alguns perfis no Instagram:

@slowfood.brasil
@institutoori
@caco.marinho
@quintaldecomer
@eco_terra_mater
@restauranteorigem
@cooperativa_repescar
@sdrbahia

*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

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Chef Caco Marinho

Foto de Chef Caco Marinho

Nascido em São Paulo, Caco Marinho se considera baiano por opção. Cozinheiro da Aliança do Movimento Slowfood e fundador do Instituto Ori, tem a missão de tornar mais acessível para todos os alimentos bons, limpos e justos. Ele também registra, divulga e protege saberes gastronômicos de povos tradicionais pelos 27 territórios de identidade da Bahia.

Instagram: @caco.marinho

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