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Direitos Humanos

Um Brasil inclusivo e diverso é negro e antirracista

Yuri Silva

Colunista On: Yuri Silva

Cordenador nacional do CEN e de Direitos Humanos do IREE
Um Brasil inclusivo e diverso é negro e antirracista
Crédito da foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Construir um país que não compactue com o racismo e suas dimensões é pensar em combater mazelas sociais históricas, estruturais, sistêmicas. Estamos falando do principal pilar do capitalismo brasileiro, que é a discriminação de raça e cor. São sobre essas bases que se estruturam desigualdades históricas, sendo a cor da pele o elemento a definir quem come e quem morre de fome, quem tem moradia e quem vive sob marquises, quem tem terra e quem é deserdado na divisão agrária, quem é encarcerado e quem tem liberdade.

É também com base no racismo que se define quem morre e quem vive, para ficar num exemplo extremo, na última instância do debate. É por isso que saídas para um país como o nosso, saídas que tenham a pretensão de serem inclusivas, passam por essa pauta.

É preciso dividir o bolo e fazer ele crescer ainda mais, para que a divisão beneficie a todos, sobretudo àqueles que foram aviltados e eliminados dos acessos a direitos básicos. Mas não adianta que seja o feito sem que negros e negras estejam em destaque, como produtores de políticas públicas e alvo delas, num só tempo. Um projeto político de nação, de qualquer que seja o espectro ideológico, deve ser centralmente negro e antirracista.

Incidir sobre o setor público nesse sentido é essencial, como tem feito o movimento negro nos últimos 30 anos, pelo menos. A garantia de parâmetros estatais para a promoção e preservação de reparação é um passo importante rumo à igualdade racial. Mas é também no setor privado que se dá a concreção de mudanças revolucionárias pró-diversidade.

É por isso que temos mergulhado nesse assunto com afinco, por meio de consultas à sociedade civil organizada, empresários e outros atores e atrizes sociais. Contribuir para que "cases" pontuais de promoção de direitos no mundo corporativo se tornem corriqueiros é uma tarefa que precisa estar nas mãos de quem tem compromisso, mas principalmente de quem entende as estratégias capazes de nos levar até o objetivo de um outro mundo.

Assim, poderemos ter mais negros e negras ocupando cargos de CEO e outros postos executivos em empresas (número que não passa de 8%, de acordo com vários levantamentos) e menos pessoas na mendicância, em um país que não tenha criança fora da escola, família com fome, nem sentimento de superioridade entre os diferentes.

Da posição de baiano, mesmo atualmente morando em São Paulo, sinto-me preparado para fazer essa discussão. Mais ainda do lugar de baiano negro, nascido e criado na periferia de Salvador por duas mulheres negras, minha avó, D. Maria José, e minha mãe, Ana Neri.

Primeiro a formação e a prática no jornalismo, e depois a militância no Coletivo de Entidades Negras (CEN), deram-me régua e compasso para avançar com mais profundidade e capacidade de discernir conceitos e ideologia da realidade prática, para assim apontar caminhos adequados e que se conectem com o povo que sofre.

É isso que tem me permitido, também, apontar essas discussões de forma preparada desde que parti para São Paulo, em janeiro, a fim de atuar como coordenador de Direitos Humanos do IREE (Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa), "think tank¹" que almeja e já tem se consolidado como grande centro de pensamento crítico e intelectual sobre o Brasil, de forma a apresentar um projeto de nação para ele.

Nesse espaço que começo a ocupar hoje, a convite do Aratu ON, falaremos todas essas discussões. Abordaremos com detalhes questões referentes à pauta racial, minha maior especialidade, e sobre a política nacional de forma geral, meu motor na vida. Vamos refletir sobre temáticas relevantes para a Bahia e para o Brasil. Espero que gostem da escrita.

Think tank¹: "reservatório" de ideias; gabinete estratégico

*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

Yuri Silva

Foto de Yuri Silva

Yuri Silva é Coordenador de Direitos Humanos do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE). Graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário Jorge Amado, também é coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN), editor-chefe do portal Mídia 4P, da Carta Capital, e consultor na área de comunicação, política e eleições. Colaborou com veículos como o jornal Estadão, o site The Intercept Brasila revista Piauí e o jornal A Tarde, de Salvador. Especializou-se na cobertura dos poderes Executivo e Legislativo e em pautas relacionadas à questão racial na sociedade de forma geral e na política.

Instagram: @yuurisilva
 

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