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Richard Williams baiano: pai treinador incentiva filhas de 2 e 4 anos a arrasarem no futebol; veja o que ele pensa

De Amélia Rodrigues, elas já chamaram a atenção de jogadoras de diferentes elencos da Seleção Brasileira, como Fabi Simões, Cristiane e Formiga, e até de Alex Morgan, dos Estados Unidos.

Por Juana Castro

Richard Williams baiano: pai treinador incentiva filhas de 2 e 4 anos a arrasarem no futebol; veja o que ele pensa
Créditos da foto: arquivo pessoal

“Igual à família Gracie no jiu-jitsu, quero tentar fazer um ‘legado Barreto’ no futebol”. A fala repleta de vontade é do funcionário público Fábio Barreto, de 35 anos, morador da cidade baiana de Amélia Rodrigues, a 87 km de Salvador. Mas, sobretudo, é de um pai que respira o esporte e que o apresentou aos quatro filhos assim que nasceram. 

As mais novas, Isa Zuleica, 4, e Fabyan Catarina, 2, inclusive, destacam-se nas redes sociais por mostrarem, mesmo tão pequenas, que têm habilidades de sobra com os pés. Com milhares de seguidores somados no InstagramTikTok e YouTube, elas já chamaram a atenção de jogadoras de diferentes elencos da Seleção Brasileira, como Fabi Simões, Cristiane e a baiana Formiga, e até de Alex Morgan, dos Estados Unidos. No dia 2 de fevereiro deste ano, quando se comemorou, nos EUA, o “Dia Nacional das Meninas e Mulheres no Esporte”, a futebolista norte-americana repostou um vídeo no qual Isa aparece driblando um garotinho

“Aprendeu a andar com um ano e já fazia arte com a bola”, conta Fábio, orgulhoso, ressaltando que tudo é muito natural no dia a dia das meninas: “Costumo dizer que ‘filho de peixe, peixinho é’”. Isso porque, desde pequeno, sempre sonhou ser jogador de futebol - ou juiz, gandula, empresário… O que fosse, desde que estivesse inserido nesse universo. Todavia, a trajetória foi um pouco diferente.

HISTÓRIA

Barreto nasceu em Ipiaú, mas cresceu em Itabela e outros lugares da região de Eunápolis, no Sul da Bahia. Seu pai adotivo teve um acidente vascular cerebral (AVC) quando ele tinha apenas 11 anos e, desde então, afirma que foi “sozinho no mundo”. Sua melhor companhia era a bola: “Fui morando na casa de um, de outro, em creche… mas sempre joguei; [...] Modéstia à parte, jogo bem - até hoje”.

Ainda jovem, veio morar em Salvador, tirando o sustento da venda de livros de “porta em porta”, e depois seguiu para Terra Nova, onde a relação com o futebol se estreitou e ele até tentou, por volta dos 21 anos, entrar no Ypiranga. Algumas portas foram fechadas, porém, em Amélia Rodrigues, outras abriram, quando Fábio achou apoio na liga de futebol e conseguiu, como treinador, “dar um empurrãozinho” em nomes como o de Joilson - mais conhecido como Hiltinho -, campeão pelo Atlético de Alagoinhas em 2021.

No entanto, o pai das mini-craques precisou se afastar dos gramados. “Eu não tinha o 2º grau. Voltei a estudar em 2015, concluí, e passei em segundo lugar no concurso do INSS, com milhares de pessoas. Foi o segundo concurso que eu tentei. Passei e fui nomeado recentemente”. Para a conquista, ele diz que sempre usou “a mesma tática do futebol” na vida. “Via filmes como 'Super Campeões', os caras treinando… sempre fui entusiasta”.

A BASE VEM FORTE

Só que o filme da vida de Fábio se assemelha a outro, lançado ano passado - “King Richard: Criando Campeãs”, baseado na história e relação das irmãs Serena e Venus Williams, multicampeãs no tênis, com o pai delas, interpretado por Will Smith (que levou o Oscar deste ano pelo papel). Afinal, é o funcionário público apaixonado por futebol quem ensina todos os fundamentos para as pequenas, assim como fez com os mais velhos, David Tierry e Eishilla Regina, hoje com 14 e 12 anos, respectivamente. Ele não quer que elas percam tempo, um dos maiores problemas do futebol feminino no Brasil, na sua visão.

“Começou a andar, já coloquei a bola no pé. Quando chegava do trabalho, elas já vinham: ‘bola, papai”, conta. “Então, o futebol entrou na vida delas assim, no dia a dia, brincando, de pai pra filha. [...] Dessa forma, acaba fugindo desse estigma de ‘querer bola no lugar de boneca’. Elas têm boneca, bola, tudo. Tanto que o aniversário de Isa, agora, ela quer do ‘Brasil de Neymar’. E a gente vai fazer. Ela gosta, mas também gosta de ballet, de vestido… A gente vai evoluindo”, afirma Fábio.

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Irmãs assistindo à Copa América no SBT | Foto: arquivo pessoal

Em um dos vídeos publicados no Instagram, inclusive, a 'trilha sonora' utilizada enquanto Isa faz uma bicicleta é uma fala de Richard (Will Smith) no referido filme: "[...] A criatura mais forte, poderosa e perigosa desse mundo inteirinho é uma mulher que sabe pensar. Ela consegue qualquer coisa". 

“A menorzinha também já faz arte com esquerda, direita… Acho que uma vai ser 9 e a outra vai ser a 10. Catarina diz que vai ser camisa 20, na verdade, porque é a data que ela nasceu. Dez em dobro!”, diverte-se o papai.

  

PROJETO

Os ensinamentos não são passados apenas às filhas. Fábio também se dedica a projetos sociais. Mesmo quando não tinha condições, conseguiu amistosos com as bases de Bahia e Vitória. Atualmente, é responsável pelo "Menina também joga 10" - no qual dá aulas gratuitas para a criançada de Amélia Rodrigues.

"Tem menino e menina. Eles vêem Isa jogar, ou na mídia... e aos poucos isso vai incentivando. Hoje, tem umas dez meninas que jogam aqui, de 7 a 12 anos. Elas brincam, têm uniforme... Têm que estudar e brincar, mesmo! Não cobro nada. Já aproveito o embalo que as meninas estão treinando e incentivo a Isa e a Catarina, porque as duas só brincavam comigo. Mas, com mais gente, sentem-se mais abraçadas", entrega.

OBSTÁCULOS

À medida que vão crescendo, contudo, Barreto percebe que o futebol vai ficando - com o perdão do trocadilho - para escanteio. "Até uns 13 ou 14 anos, as meninas têm o ímpeto de acreditar, mas chegam nos 15/16, adolescência, e começam a desacreditar e se sentir diferentes, observadas de forma diferente pelas outras pessoas, que dizem que é 'pra procurar uma roupa pra lavar', ou que futebol é 'esporte de menino'.

E aí mesmo ensinando a dominar, girar, chutar e cair, Fábio sabe da realidade do futebol feminino no país, que esbarra no preconceito. “A maioria dos homens reclama muito do futebol feminino, diz que é mais lento, que não tem isso, não tem aquilo… Lógico. Pela defasagem de tempo. Só pra criar coragem de jogar futebol…”, completa, indicando a demora. “Esse é o grande diferencial, além do financeiro. Hoje, qualquer jogador ‘perna-de-pau’ profissional ganha mais do que a melhor jogadora de futebol feminino”, dispara.

"Ainda existe uma mentalidade arcaica e patriarcal, na sociedade, que aos poucos vamos tirando", pontua Fábio, reforçando que é por isso que a introdução à modalidade "tem que ser desde pequenininha".

REPRESENTATIVIDADE

Ele acredita que as redes sociais também são fundamentais, hoje em dia, na divulgação do futebol feminino, e nota que há, cada vez mais, meninas jogando, exibindo seus talentos e 'viralizando'. Lembrando que vêm do Nordeste as duas 'rainhas' do futebol e futsal, respectivamente - Marta (Alagoas) e Amandinha (Ceará) -, o funcionário público/treinador também faz um apelo para que as atletas abracem mais a causa, dando visibilidade às pequenas jogadoras espalhadas pelo país.

"O pessoal de fora consegue ter um pouco mais de visão e abraçar a categoria que muitas atletas brasileiras. Uma menção ou marcação [em rede social] já é alguma coisa. Já é um pai ou uma mãe que vê", sinaliza. 

E como diz o ditado popular "quem meu filho beija, minha boca adoça", Fábio guarda boas lembranças da conterrânea Miraildes Maciel Mota, a Formiga. Diferente de Isa e Catarina, a ex-zagueira da Seleção contou para eles que não tinha bola, quando criança, e que a própria família não a deixava jogar. Hoje, é referência quando se fala em futebol feminino no Brasil.

"Elas gostam da Formiga. A gente se conheceu e ela deu uma camisa às meninas. Tirou meia hora, brincou, foi tão gente boa, tocou bola… Foi algo que encheu água no olho", narra. "Formiga representa. É baiana, retada, [símbolo de] uma luta", completa o pai.

PERSPECTIVA

Sobre o futuro da categoria, Fábio se mostra otimista. "Acredito que a gente vai conseguir chegar num patamar internacional de melhor do mundo e ganhar copa, e eu pretendo estar vivo, com fé em Deus". 

Para ele, quando o esporte e a educação são aplicados, a sociedade melhora, assim como o futuro de uma família pode melhorar. "A gente vai motivando o outro e o esporte feminino vai crescer muito ainda”, conclui.

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Fábio, Eyshilla, David e Isa (à esquerda) e Catarina (direita) | Fotos: reprodução/Instagram

Saiba como acompanhar Isa e Catarina Barreto nas redes sociais:

Instagram (@isaecatarinabarreto)

- Instagram (@meninatbmjoga10)

TikTok @isaecatarinabarreto)

YouTube

*Publicada originalmente às 10h do dia 14/08/2022

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