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Em entrevista ao Aratu On, pesquisador responde: o ChatGPT, nova inteligência artificial, pode acabar com os nossos empregos?

Para entender melhor sobre essa tecnologia, o Aratu On conversou com Daniel Marques, pesquisador da Ufba e professor da UFRB

Por Bruna Castelo Branco

Em entrevista ao Aratu On, pesquisador responde: o ChatGPT, nova inteligência artificial, pode acabar com os nossos empregos?
Créditos da foto: ilustrativa/Pexels

Há dois meses, um robô chamado ChatGPT foi lançado para transformar o mundo. Além de escrever textos jornalísticos, acadêmicos e até poemas, essa inteligência artificial é capaz de criar roteiros de viagem personalizados, dar dicas de receita e traduzir textos de diversos idiomas - e tudo isso em poucos segundos. Parece até história de filme de ficção científica, mas, é real: com uma base digital de dados gigantesca, o ChatGPT já está sendo utilizado por alguns veículos de comunicação e até conseguiu passar em uma prova para se tornar médico.

Porém, há um adendo importante: como o banco de dados do robô é baseado em informações que foram publicadas na internet em 2021, pode ser que ele esteja desatualizado. Por isso, é sempre bom checar as informações apresentadas pela máquina antes de sair compartilhando-as por aí. Além disso, logo que o usuário cria uma conta, uma notificação avisa que o robô pode, sim, reproduzir discursos preconceituosos caso seja estimulado.

Para entender melhor sobre essa tecnologia, que já atraiu mais de 1 milhão de usuários em todo o mundo e chegou a receber um investimento de US$ 10 bilhões de dólares da Microsoft, o Aratu On conversou com Daniel Marques, pesquisador da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). Na entrevista, ele falou sobre os impactos que essa tecnologia pode trazer para a sociedade, as funções dessa inteligência artificial e falou sobre a possibilidade de nós, humanos, perdermos nossos empregos para robôs: "Da mesma forma que o livro, rádio, TV e internet não destruíram a humanidade, dificilmente acontecerá o mesmo com a AI".

CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA:

O que é essa inteligência artificial? Como ela funciona?

O ChatGPT é um sistema de inteligência artificial que se destaca pela sua interface conversacional através de chat. Esse aspecto é o que o torna único em relação a outros sistemas de IA, que não possuem essa mesma forma de interação. É importante lembrar que a IA, como o ChatGPT, já vem sendo pesquisada e desenvolvida há muitos anos e já está presente em nossa vida cotidiana de forma subjetiva. Por exemplo, os algoritmos que determinam o conteúdo apresentado nas redes sociais são formas de IA, pois utilizam técnicas de aprendizado de máquina para entregar um conteúdo cada vez mais preciso, de acordo com os parâmetros estabelecidos pela plataforma.

O ChatGPT funciona por meio de um processo complexo e sofisticado de aprendizado de máquina. Ele utiliza um modelo de linguagem baseado em redes neurais e é alimentado com grandes quantidades de dados de texto. Os algoritmos do modelo neural "aprendem" a responder a uma variedade de perguntas e comentários feitos pelos usuários. Esse processo é realizado com a ajuda de humanos, que selecionam e adaptam os dados de treinamento para atender às necessidades específicas do aplicativo ou uso, e avaliam a qualidade das respostas geradas pelo modelo para ajustá-lo.

Você acha que essa tecnologia deve se tornar uma tendência nos veículos de comunicação?

Prever o impacto e a aplicação de tecnologias como o ChatGPT na comunicação é uma tarefa desafiadora, pois ainda estamos no início da popularização dessas tecnologias. Como mencionado anteriormente, um dos diferenciais do ChatGPT é sua acessibilidade - ele torna possível que o grande público tenha acesso, interaja e utilize um sistema de IA relativamente sofisticado. No entanto, ainda precisamos desenvolver a etiqueta adequada para lidar com essa tecnologia no dia a dia do trabalho. É preciso, por exemplo, mais tempo para testar e usar continuamente para avaliar qual é o potencial de aplicação.

Se pensarmos em veículos de comunicação, como o ChatGPT pode ser eficaz? Quais tarefas podem ser automatizadas? Que tipo de conteúdo comunicacional pode ser delegado para um sistema de IA? Dificilmente, o ChatGPT será capaz de produzir um produto comunicacional completo, mas pode ajudar no desenvolvimento de aspectos marginais, como títulos, resumos, sumários e pequenas chamadas. Outro fator importante será a capacidade do ChatGPT e de seus usuários de extrair conteúdo da ferramenta que não seja algo padrão ou básico.

Isso pode desenvolver um estilo-AI de produzir conteúdo que melhore muitos dos textos que encontramos nos veículos de comunicação. Assim como outros campos da mídia seguem determinados modelos ou formatos industriais, o mesmo pode acontecer com a IA. Talvez, com o tempo, sejamos capazes de identificar quando uma manchete foi escrita usando IA. Isso é algo que os comunicadores e consumidores precisam considerar. O que aconteceria, por exemplo, se todos os grandes veículos de comunicação passassem a usar o ChatGPT para gerar suas manchetes ou títulos?

Além de ser usada no jornalismo, onde mais ela pode ser aplicada? Você acha possível usá-la em produções literárias, por exemplo?

A variedade de aplicações do ChatGPT é praticamente ilimitada. Como um modelo neural genérico, ele pode ser usado para atender a uma variedade de necessidades que envolvem a geração de conteúdo. Por exemplo, os programadores podem pedir ao ChatGPT para escrever códigos em diferentes linguagens de programação para executar tarefas específicas. O modelo conversacional do ChatGPT também pode ser usado para automatizar o atendimento ao cliente através de chat. Além disso, o ChatGPT pode ser usado para escrever e-mails, criar histórias com personagens, escrever poemas, músicas e versos. Recentemente, um livro inteiramente escrito pelo ChatGPT e ilustrado por uma outra IA, chamada Midjourney, foi criado em apenas 3 dias.

Eu acredito que o ChatGPT é particularmente útil em dois cenários principais. O primeiro é para automatizar a produção de conteúdo de baixo impacto, como e-mails, pequenos textos, relatórios, legendas ou outros tipos de textos que geralmente são considerados "trabalho braçal" e não exigem muita reflexão. A segunda aplicação é para a geração de ideias, como, por exemplo, quando você está trabalhando em um projeto sobre inteligência artificial e jornalismo e não sabe muito bem por onde começar. Um comando simples, como "liste os principais problemas envolvendo inteligência artificial e jornalismo" no ChatGPT, pode abrir novas perspectivas e caminhos que você não teria percebido antes.

No campo da arte, a utilização de AIs para gerar texto e imagem está gerando um debate intenso sobre o que é considerado arte, quando se trata desse tipo de tecnologia. Para mim, é importante considerar que o processo criativo e artístico envolvido é completamente diferente e não deve ser avaliado da mesma forma. Existe uma habilidade específica em escrever os comandos corretos para que essas AIs possam produzir algo que realize a visão do artista. No entanto, existem muitos guias na internet que explicam como redigir comandos para obter melhores resultados. Em outras palavras, ainda estamos aprendendo qual é a postura e o trabalho do artista frente a esse tipo de tecnologia.

Há algum impacto positivo no uso dessa tecnologia? E negativo?

Ainda é cedo para determinar o impacto real da utilização do ChatGPT e outros sistemas de inteligência artificial similares, pois ainda estamos nos adaptando e aprendendo sobre suas possibilidades e limitações. A opinião sobre esses sistemas varia muito de pessoa para pessoa, enquanto alguns enxergam a produção de conteúdo automatizado como algo positivo, outros veem isso como algo negativo, pois acreditam que perdemos algum aspecto "essencial" da criação.

Na minha opinião, o mais importante é considerarmos o impacto geral causado pela popularização dessa tecnologia. Nunca antes se discutiu tanto sobre o papel da inteligência artificial, seus benefícios e malefícios, e como ela funciona na sociedade. Essa é uma discussão saudável e necessária, pois estamos convivendo com sistemas de AI que nunca antes haviam gerado tanto debate.

Em resumo, penso que o principal impacto é fazer com que pensemos sobre como essa tecnologia está se incorporando em nossa sociedade, como devemos lidar com ela e como devemos estabelecer limites para sua utilização.

Agora, a pergunta que muita gente se faz: essa inteligência artificial pode substituir o trabalho humano?

Isso vai depender muito do que entendemos por trabalho humano. Outro aspecto importante sobre AIs dessa natureza é que elas nos convocam a pensar sobre qual seu papel no mundo. Entender isso nos ajuda a entender, também, o nosso papel. Nos circuitos de arte têm se dito que devemos delegar para a AI as tarefas banais, burocráticas e braçais do cotidiano, libertando, assim, os humanos para o desenvolvimento de atividades que exigem reflexão e criatividade. Essa é uma perspectiva purista, que invisibiliza o papel das ferramentas, dos artefatos e das “coisas” no desenvolvimento de qualquer tarefa “humana”.

Penso que esse pensamento é nocivo, pois ignora a forma como essas tecnologias estão, efetivamente, mudando nossa forma de agir, pensar, e nos comunicar. Dito isso, não acredito numa substituição do trabalho humano pela AI, mas, sim, numa reconfiguração do que entendemos por trabalho – bem como de qual é o nosso papel nesse processo. Talvez surja, por exemplo, uma competência profissional que é ser capaz de escrever os prompts corretos para a AI.

Talvez, essa seja uma habilidade exigida por recrutadores daqui para a frente, ainda é cedo para dizer. Da mesma forma que o livro, rádio, TV e internet não destruíram a humanidade, dificilmente acontecerá o mesmo com a AI. Entretanto, todas essas tecnologias nos modificaram profundamente, e o mesmo deve acontecer com a AI. Precisamos reconhecer isso para que sejamos capazes de navegar essa maré de mudanças do modo mais saudável possível.

LEIA MAIS: Conheça o robô que é capaz de escrever poemas, matérias, artigos acadêmicos e até conversar com usuários

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