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"Capitão de Areia" - sucesso no TikTok, música demorou 58 anos para ser conhecida e foi rejeitada até pelo pai de Cazuza; entenda

“Garoto abandonado da Bahia é capitão de areia, capitão de areia”. Venha conferir essa matéria explicando a trajetória da música.

Por Lucas Pereira

"Capitão de Areia" - sucesso no TikTok, música demorou 58 anos para ser conhecida e foi rejeitada até pelo pai de Cazuza; entenda
Créditos da foto: arquivo pessoal

“Garoto abandonado da Bahia é capitão de areia, capitão de areia”.

Nos últimos dias, o trecho da música tem estado presente na nossa mente. Não é mais comum navegar pelas redes sociais sem ouvir o hit - que ganhou força no TikTok -. A reportagem do Aratu On foi atrás da origem e descobriu que a canção tem uma trajetória incomum e já começa por um detalhe: ela não foi composta neste século.

Pode acreditar, mas essa é uma música “cringe”, de 1964, e que originalmente não possui essa batida eletrônica e ritmo envolvente. O primeiro intérprete tinha 12 anos quando surgiu o "Capitão de Areia". Hoje, na casa dos 70, ele revelou um pouco sobre a canção. O que ele achou de ficar "estourado" 58 anos depois?

Professor, músico, compositor e maestro, Agenor Ribeiro começou sua trajetória como cantor em um grupo de baile, no interior do Rio de Janeiro. “Eu sou fruto de duas famílias que tinham a chamada veia artística. Tanto pelo lado do pai, quanto da minha mãe", começa o maestro, ao ser entrevistado pelo Aratu On

Entre músicos, compositores, pintores e até mesmo um dançarino de tango, apenas Agenor teve uma carreira profissional de maior longevidade.

Aos seis anos, após participar de um concurso de imitação no programa do Palhaço Carequinha, Ribeiro teve sua primeira experiência em televisão. Aos 11, assumiu os vocais do grupo de bailes Klaf, após a saída de Carlos Alberto, antigo vocalista, contratado pela gravadora CBS.

Mostrando talento após o sucesso de Carlos Alberto, que ganhou o título de “o Rei dos Boleros” e resolveu ajudar o jovem cantor, Agenor foi até a capital carioca para gravar um disco com duas músicas. Entre elas, “Capitão de Areia”.

Apesar de estar no disco, a outra canção do vinil, “Natal de um menino pobre”, foi escolhida pela gravadora como a música a ser trabalhada nas rádios. “Ela não fez sucesso na época, porque não era a música trabalhada”.

Feito pela gravadora Philips, um detalhe curioso do disco é que o diretor da gravadora era João Araújo, pai de Agenor de Miranda Araújo Neto, que anos mais tarde ficaria conhecido como Cazuza. 

O garoto foi crescendo e continuou sua trajetória na música. Integrou o Coro da Orquestra Sinfônica Nacional, estudou música, foi professor e seguiu compondo. Além de ter trabalhado na mesma escola em que Anitta estudou (ainda que não se recorde se deu aulas para ela), Agenor participou da canção “Muito Romântico”, de Caetano Veloso. 

Perguntado sobre como foi se ouvir criança após 58 anos, Agenor foi bem sincero. ”O sentimento de ouvir essa música não dá para explicar. É um sentimento patético, não dá para entender”, revela.  

CONFIRA A VERSÃO ORIGINAL DA CANÇÃO

COMO A "CAPITÃO DE AREIA" FOI PARA O TOPO?

Além do maestro Agenor, outro personagem é importante na trajetória da música rumo ao sucesso: o DJ Rodrigo Vellutini. Antes de viralizar em terras brasileiras, a canção explodiu na Rússia também por conta das redes sociais. Ela começou a ganhar visibilidade após um youtuber russo, Marmok, usá-la como trilha em suas gameplays de Counter Strike (esse joguinho os brazucas raízes conhecem).

“O projeto Afterclapp surgiu mais ou menos em 2016 e a ideia era que fosse meio que um projeto de hip hop, com músicas antigas, canções esquecidas e colocando os beats. Com o tempo, isso foi evoluindo para a música brasileira porque nossa música é muito rica e lá fora a galera pira na música brasileira”, contou Rodrigo ao Aratu On

A versão que fez sucesso é um remix eletrônico da canção gravada por Agenor, lá em 1964. Através de seu projeto, Afterclapp, que, além de músicas autorais, apresenta remixes de diversas canções de artistas nacionais, como Caetano Veloso e Luiz Gonzaga, o artista divulga seus projetos nas plataformas de streaming de músicas, como o SoundClound. A canção foi para as paradas de sucesso no país e virou febre nas redes sociais.

Aqui no Brasil, anos antes, outros capitães, os “DA” areia, conquistaram o público. Nesse caso, nada de música, mas um livro escrito por Jorge Amado. Para os millenials que não tenham lido, a história conta a trajetória de um grupo de crianças órfãs e abandonadas, que vivem em um casarão velho, na região de São Joaquim.

O protagonista, Pedro Bala (pode associar ao Peter Pan, se quiser), é o líder dos capitães da areia, como se chama o grupo. Na literatura, o grupo acaba realizando diversos furtos e golpes para poder sobreviver (nada diferente da canção de agora, que existe para roubar nossas mentes). 

A verdade é que tanto o livro de Jorge Amado quanto a música cantada por seu Agenor e mixada por Rodrigo ganhou os corações dos russos. Inclusive, a tradução do conto do escritor baiano é um dos livros preferidos do presidente Vladimir Putin. Além disso, uma adaptação do cinema norte-americano da década de 60 é sucesso por lá.

Perguntado sobre onde descobriu a música “Capitão de Areia”, Rodrigo revelou que foi por meio de outro DJ, que é muito fã. “O DJ DubStrong veio tocar em um festival aqui em Florianópolis. Ele me entregou um CD que tinha gravado só com músicas relacionadas a umbanda, com raízes bem brasileiras. A segunda era Capitão de Areia, eu estava ouvindo no carro, parei e pensei ‘caramba, essa música é muito boa, acho que dá pra fazer alguma coisa com ela’". 

CONFIRA A VERSÃO REMIX DA CANÇÃO

 

Há curiosidade no caminho da canção “Capitão de Areia”, seja por ser uma canção brasileira que primeiramente fez um baita sucesso no estrangeiro antes de explodir por aqui, ou mesmo por ter virado um hit muitos anos depois de lançada. Como uma bomba de efeito retardada, não programada para detonar, talvez a chave para esse sucesso todo seja a união de passado e futuro, através da internet.

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