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Saúde

CPI da Covid: '400 mil mortes poderiam ser evitadas', diz epidemiologista

Além de Hallal, professor e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, também participou Jurema Werneck, coordenadora do Movimento Alerta e diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil.

Por Da Redação

CPI da Covid: '400 mil mortes poderiam ser evitadas', diz epidemiologista
Créditos da foto: Pedro Hallal | divulgação/Agência Senado

400 mil mortes por Covid-19 poderiam ter sido evitadadas caso o Brasil tivesse adotado medidas de controle como vacinação eficiente e estímulo ao uso de máscaras e isolamento social. Quem fez essa afirmação foi o epidemiologista Pedro Hallal , durante depoimento à CPI da Covid, nesta quinta-feira (24/6). O Brasil acumula mais de 507 mil vidas perdidas pela doença.

Nesta quinta-feira, a Comissão ouviu especialistas para quantificar o impacto da pandemia e da ausência de medidas no número de brasileiros mortos. Além de Hallal, professor e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, também participou Jurema Werneck, coordenadora do Movimento Alerta e diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil.

Os dois apresentaram estudos a respeito do impacto da pandemia no Brasil e também projeções de mortes que poderiam ter sido evitadas com a adoção de certas medidas.

Hallal afirmou que quatro em cada cinco mortes no país poderiam não ter ocorrido se os números de infectados e mortes no Brasil seguissem o padrão da pandemia em outros países. "Então, é um número composto, são 400 mil vidas que poderiam ter sido salvas por diferentes mecanismos de ação que o Brasil poderia ter adotado”.

Jurema Werneck, por sua vez, apresentou um estudo que indica que 120 mil mortes por Covid-19 poderiam ter sido evitadas até março deste ano. "Se tivéssemos agido como era preciso, a gente poderia, ainda no primeiro ano de vida, ainda no primeiro ano de história da pandemia entre nós, nas 52 primeiras semanas epidemiológicas, ter salvo 120 mil vidas", disse.

"E não são números. São pais, mães, irmãos, sobrinhos, tios, vizinhos, são gente que eu não conheço, mas habita este país, como eu. A gente poderia ter salvo pessoas, se uma política efetiva de controle, baseada em ações não farmacológicas, tivesse sido implementad", completou.

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Pesquisadora Jurema Werneck | divulgação/Agência Senado


Levando em conta apenas a vacinação, Hallal falou que até 145 mil mortes poderiam ter sido evitadas caso o esquema de imunização fosse rápido e eficiente.

"São 95,5 mil mortes especificamente relacionadas à demora na assinatura da Pfizer e da CoronaVac. Um outro estudo liderado por outros colegas da USP [Universidade de São Paulo] estimou em 145 mil mortes, mas aí levando em consideração todas as ações diversas que poderiam ter sido feitas em relação à vacinação. Por exemplo, o Brasil ter aderido ao menor percentual ao consórcio da OMS [Organização Mundial da Saúde] e às outras oportunidades de vacina que infelizmente o Brasil não optou por assinar antes".

Jurema também mostrou uma projeção de que houve 305 mil mortes 'em excesso' no Brasil (até março), que podem ser pelo coronavírus ou por outras causas. Porém, a pesquisadora ressalta que esse dado pode estar diretamente ligado com a pandemia, uma vez que pacientes com outras doenças podem não ter tido acesso a tratamento.

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Roberto Suguino/Agência Senado

 

MEDICAMENTOS INEFICAZES E VACINAÇÃO INEFICIENTE 

Tanto Hallal quanto Werneck atribuíram ao governo federal, principalmente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a responsabilidade pela não adoção das medidas adequadas e as consequentes mortes em decorrência da Covid-19.

"Quem disse que vacina transforma a pessoa em jacaré foi o presidente da República, não foi o governo federal. Quem disse que não ia comprar vacina da China foi o Presidente da República”, disse o epidemiologista. "Com relação à pandemia, o presidente consegue estar errado em 100% dos casos", completou.

Eles também rebateram a noção de um vírus "democrático", que teria impactado a população de maneira uniforme, sem distinção de classe social, apontando que as ditas minorias foram a parcela mais atingida pela pandemia.

Jurema Werneck apontou que apenas 14% da população brasileira foi testada para a Covid-19, por exemplo, sendo a basicamente pessoas brancas e moradoras dos grandes centros. "O vírus procura oportunidade, mas a injustiça, a desigualdade, as iniquidades fizeram diferença”, afirmou Jurema.

Além disso, os dois especialistas criticaram a tese da imunidade de rebanho e a defesa de medicamentos sem comprovação de eficácia. Hallal disse que a imunidade de rebanho foi um equívoco, inicialmente, mas com precedentes. Depois, contudo, tornou-se uma estratégia "repugnante".

"O Brasil fez promoção de tratamentos ineficazes. E sobre esse tema gostaria desde já de manifestar que muito menos que a discussão se um medicamento em específico funciona ou não é a discussão da sensação de segurança que foi passada para a população brasileira: ‘podem pegar o vírus que tem um remédio que vai salvá-los’", comentou.

"FECHAR POR TRÊS SEMANAS"

Hallal acrescentou que, para vencer a pandemia e parar a circulação do vírus, o Brasil precisa urgentemente vacinar 1,5 milhão de pessoas por dia e "fechar por três semanas", assim como fez o município de Araraquara, em São Paulo.

CENSURA

Quando falou sobre o impacto da pandemia nas minorias, Pedro Hallal afirmou que o governo federal censurou um slide de sua apresentação feita no Palácio do Planalto, que mostrava diferença de contágio pelo coronavírus entre os grupos étnicos, evidenciando a vulnerabilidade dos indígenas.

"Esse slide que apresentava diferença pelos grupos étnicos foi censurado na coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, na qual eu apresentei os resultados dessa pesquisa", disse.

Ele tinha sido contratado por três meses para elaborar um monitoramento epidemiológico da pandemia, ainda na gestão do então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Porém, pouco tempo depois desse evento no Planalto, o projeto foi encerrado no prazo, sem ser prorrogado.

"Faltando quinze minutos para começar a minha apresentação, no Palácio do Planalto, eu fui informado pela assessoria de comunicação, de que o eslaide tinha sido retirado da apresentação. E logo depois, pouco tempo depois, o Ministério da Saúde decidiu interromper o monitoramento por meio do Epicovid, sem qualquer justificativa técnica", completou o pesquisador.

Quando o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questionou sobre quem teria censurado o slide, o Pedro Hallal disse que seria o então secretário-executivo Élcio Franco, braço-direito do ex-ministro Eduardo Pazuello.

Por fim, Hallal também disse considerar "estranha" a realização de um novo mapeamento epidemiológico, ao custo de R$ 200 milhões.

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