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Resgatando Vidas: idoso vítima de trabalho escravo em Lauro de Freitas relembra explorações; assista

O resgate veio quando um homem presenciou uma das agressões e entrou em contato com o Ministério Público

Por Bruna Castelo Branco

Resgatando Vidas: idoso vítima de trabalho escravo em Lauro de Freitas relembra explorações; assista
Créditos da foto: divulgação

Em setembro deste ano, um idoso de 66 anos foi resgatado de trabalho análogo à escravidão em uma casa em Vilas do Atlântico, bairro de luxo em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador.

Em entrevista ao Grupo Aratu, a vítima, que foi explorada por mais de quatro décadas, contou que, no início, a patroa o pagava. "Comecei trabalhando bem com ela, me pagando 500 reais. Mas, de repente, ela foi mudando, aí eu adoeci. Quando eu adoeci, piorou. Ela começou a exigir que eu trabalhasse correndo, ligeiro. Chegou a me bater várias vezes, me dava tapa na cara, me batia com a vassoura, me empurrava para eu cair".

O resgate veio quando um homem presenciou uma das agressões e entrou em contato com o Ministério Público. Após a denúncia, a Superintendência Regional do Trabalho foi até o local para fazer o resgate da vítima.

Liane Durão, chefe do setor de Fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho, disse que o idoso estava em um estado preocupante quando foi resgatado: ele já havia sofrido dois AVCs e morava em um quartinho minúsculo, sem ventilação, descrito por Liane como "indigno".

Segundo o Ministério Público do Trabalho, após o resgate, ele precisou passar por atendimento médico de urgência. O quadro incluía infecção urinária e pressão arterial alta e descontrolada, além da ausência de vacinas, inclusive a da Covid-19.

"Era um local sem janelas, com muita sujidade, muitos objetos, veneno para matar rato, para matar barata.Tudo junto e misturado naquele ambiente que, de forma muito precária, ele dormia, preparava suas refeições e sobrevivia", relatou Liane.

O único dinheiro que o idoso ganhava era uma quantia mínima que o patrão dava por semana: entre R$ 50 e R$ 100. Com o valor, ele comprava itens de higiene pessoal: "Comprava minhas coisinhas. Sabonete... até ferramenta de trabalho lá era eu que comprava".

VULNERABILIDADE

Ao Cidade Aratu, o vice-presidente da Associação Brasileira do Trabalho, Vitor Filgueiras, explicou que a exploração nasce da situação de vulnerabilidade da vítima, ou seja: quanto mais pobre e desassistida uma pessoa está, mais presa ela fica a relações de trabalho predatórias e criminosas.

"A primeira coisa que um patrão fala é: 'Ah, ele não estava amarrado, ele não estava preso. Se ele quisesse, ele iria embora'. Mas, é mentira. Ele só poderia ir embora se tivesse outras alternativas de sobrevivência. Se ele não tem, vai se submeter a qualquer coisa: dormir em cima de fezes, morar com animais, trabalhar 14 horas por dia, dentre outras formas extremas. São exemplos concretos que eu estou dando aqui".

Após ser resgatado, o idoso foi morar em uma casa de acolhimento em Lauro de Freitas. Uma das assistentes sociais do espaço, Cecília Santos, ainda lembra bem como ele chegou: "Muito sujo, com muita crosta, principalmente no rosto, nas pernas. Entre um morador de rua e ele, não tinha diferença, porque ele estava muito maltratado, muito mesmo".

Na casa de acolhimento, depois de 40 anos, o idoso finalmente reencontrou a família. Depois de tanto tempo, porém, ele não conseguiu reconhecer todos os familiares que conseguiram ir visitá-lo. "Estão todos separados, mas eu vou me juntar com eles. Espero boas condições de vida daqui em diante, esquecer essa mulher, que ela vai me pagar pelo que ela me fez".

Um inquérito civil foi aberto para investigar o caso. Se não houver acordo, os procuradores poderão ajuizar uma ação civil pública em busca da reparação indenizatória pelos danos causados.

DENUNCIE

Apenas em 2021, 1.937 pessoas foram resgatadas de situações em que eram vítimas de trabalho análogo à escravidão. Denúncias podem ser realizadas no site do Sistema Ipê, e podem ser feitas em sigilo.

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